Tenho recebido, ultimamente, um conjunto expressivo de reclamações de professores da escola básica e da universidade a respeito de assédio moral de seus diretores, secretários de educação ou representantes/delegados locais de ensino. O assédio tem sido intenso, especialmente em busca de votos, apoio político e apoio a projetos pessoais de poder que nem sempre – ou quase nunca! – dizem respeito aos interesses institucionais, e é efetivado na forma de chantagens, ameaças e atos efetivos de discriminação e humilhação.
Acho que é muito importante que todos saibam que assédio moral é crime e, como tal, não deve ser tolerado. Não é coisa sem importância não! É um crime grave! E, por isso, é preciso ter disposição para denunciar os assediantes sem medo, sem tolerância e sem qualquer resquício de culpa por estar fazendo isso. Muitas vezes, pensamos: “Ah! Mas é meu colega de trabalho...” ou “Puxa, eu não quero encrenca com ninguém...”. Pois é bom saber que esse é um pensamento imaturo, tolo e que apenas alimenta no criminoso assediante sua ideia de que o assédio moral pode ser cometido, pois não gera consequências. Chega disso!
Uma vez, há uns 15 anos, a diretora do Campus Universitário em que eu trabalhava, chegou pra mim e disse: “Vou acabar com a sua vida! Você vai preferir não ter nascido.” O motivo da ameaça foi minha discordância de alguns atos cometidos por ela, que eu havia externado em uma reunião de conselho. Ela se achava a “poderosa diretora” e achou que eu ia abaixar a cabeça pra ela. Foi quando quebrou a cara... Na mesma hora eu lhe disse: “Esteja amanhã pela manhã às oito horas na sala do Reitor, pois eu estarei lá para denunciar, na sua frente, tudo o que tem feito e suas ameaças para comigo.” Ela não acreditou muito, mas na dúvida foi até a sede da universidade (330 km de onde morávamos). Ao chegar lá, me encontrou na porta da Reitoria esperando a chegada do Reitor. Quando ele chegou, ele e ela ouviram a leitura de um documento com todas as denúncias, inclusive as de assédio moral. E o documento terminava assim: “Se o magnífico reitor não tomar as providências cabíveis imediatamente, como prescrito em lei, saiba que, nesta mesma data, estarei me dirigindo ao Ministério Público Federal para denunciá-lo como cúmplice.”. Afinal, é justamente isso que diz a lei. Foi instaurada uma sindicância imediatamente, a “poderosa diretora” foi exonerada e, inclusive, teve que devolver dinheiro aos cofres públicos, com descontos em folha por dois anos, pois a sindicância descobriu outras coisas graves que eu nem sabia. O fato é que o assédio terminou ali. Se eu tivesse ficado calado, se tivesse deixado ela me intimidar, o assédio teria se multiplicado para outros professores que não a apoiassem e, além disso, a corrupção teria seguido solta... Ou seja: ou se tem coragem para interromper o processo, doa a quem doer, e buscar refúgio na justiça, ou não se deve reclamar depois. Só aceito reclamação de quem não sabe que isso é crime e que precisa ser denunciado.
O assédio moral, muitíssimo comum nas escolas e universidades, recebe atenção especial de pessoas preocupadas em sanear a sociedade desse crime. Há uma ONG brasileira (Assédio Moral no Trabalho) que tem um site maravilhoso, com tudo o que se precisa saber sobre esse crime, como combatê-lo, denunciá-lo, evitá-lo, proteger-se dos assediantes, etc. O site é http://www.assediomoral.org .
Nesse site, existem links para publicações e para as cartilhas. Recomendo, logo de início, a leitura da cartilha elaborada pelo NUCODIS/DRT/SC, muito bem feita, muito instrutiva e de fácil leitura. Mesmo quem pensa que não sofre assédio moral no trabalho - e mesmo quem tem certeza de que não sofre - deve ler o material, essencial às relações de trabalho de hoje. O link é:
http://www.assediomoral.org/IMG/pdf/cartilha_do_NUCODIS_DRT_SC.pdf
Finalmente, quero fazer um apelo veemente aos meus colegas professores universitários e da Educação Básica: não tolerem mais o assédio moral no trabalho! Informem-se sobre a gravidade desse crime e denunciem! Não tenham medo dos assediantes. Eles pensam que são poderosos, mas não são tanto assim! Não se deixem intimidar. A justiça brasileira tem colocado sua mão, hoje, até em políticos influentes, e mesmo em juízes e promotores corruptos. É hora de acreditar que algo será feito. Se as vias administrativas não funcionarem como se desejava, procurem as Delegacias Regionais do Trabalho (que têm núcleos pró-dignidade) e os Ministérios Públicos estadual ou federal, conforme o órgão em que vocês trabalham. Levem esses criminosos à justiça para que sejam punidos e, se possível, demitidos do sistema educacional. Precisamos sanear o sistema!
Enquanto nossos professores forem humilhados, constrangidos, perseguidos e, por tudo isso, ficarem ou continuarem doentes, deprimidos, desiludidos com sua carreira, de pouco adiantarão ações sistêmicas para a melhoria da educação. Apenas professores felizes e valorizados, respeitados e satisfeitos com as condições de trabalho poderão construir uma educação feliz.
Semanticista, escritor e artista plástico paulistano, mora há 23 anos na Amazônia e dedica sua vida profissional à questão da educação brasileira. Site: www.cferrarezi.com
Copiado de http://migre.me/3uNfm
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